Começo este texto refletindo sobre a ideia de que não há nada mais absurdo do que o fato de existir. Aliado às incógnitas e mistérios, o homem tem que se adequar para poder se sustentar e encontrar meios de se colocar frente a essa realidade.
Dessa forma o ser humano está condenado a três verdades inescapáveis: criar fantasias a respeito de um futuro incerto; correr atrás da felicidade, esquecendo de que ela é apenas um pote de ouro no final do arco-íris; e carregar o passado que o acompanha feito sombra até à morte. Juntam-se a esta condenação três sentimentos inerentes à natureza humana: a temida solidão; a incompreendida angústia e a incontestável liberdade. É sobre esses três sentimentos que quero focar minha discussão.
A ANGÚSTIA sai do campo da patologia, um lugar onde sempre pareceu estar, para entrar no cenário humano como parte constituinte do sujeito. Devido à nova dimensão nos pontos referentes a sua compreensão, ela passou a ser vista como inerente à condição humana e não uma forma de patologia. É como defini-la como a sensação de incompletude. Somos seres angustiados por natureza, pois somos jogados à vida sem precedentes que nos conduzam ao bom caminho, vivemos apenas rodeados por mistérios sem respostas: de onde viemos, para onde vamos, quem somos? Pensar a fundo no absurdo da existência é ser tomado por forte descarga de angústia. Por isso, creio eu, nossa mente tenta fugir desses devaneios, tentando compensar nosso espírito com outras coisas, dando maior importância ao ter do que ao ser.
Grande parte da angústia advém da LIBERDADE do ser humano. O homem é um ser totalmente livre, responsável por todos os seus atos, escolhas e resoluções. Isso é angustiante por que pensar assim nesse caso é dizer que não há como colocar a culpa em ninguém, nem em Deus e muito menos em outras pessoas. Nós, seres humanos somos os únicos responsáveis por todos os caminhos traçados e por tudo o que compõe a nossa existência. O homem é um ser que, livre, decide a própria vida. O homem arca com a responsabilidade de sua escolha. Para Sartre, “a liberdade não é uma qualidade que se acrescente às qualidades que já possuía como homem: a liberdade é o que precisamente me estrutura como homem, porque é uma designação específica da própria qualidade de ser consciente, de poder negar, de transcender. A liberdade é o que define a minha possibilidade de me recusar como coisa, projetando-me para além disso, ou, se quiser, para além de mim”.
E por fim, a consequência de tudo isso: a SOLIDÃO de cada um, resultado do pouco entendimento sobre quem somos e da dificuldade de se relacionar consigo mesmo. Talvez a solidão seja a responsável por despertar o desejo por uma busca desenfreada e desesperada de ser amado pelo outro, como se resumisse todo o objetivo de uma vida inteira. Mas relações humanas também são solitárias, pois não há como ter acesso ao campo subjetivo do outro e ter assim a certeza do seu amor por nós. Do nosso amor é possível ter certeza, mas o amor do outro é algo inatingível. É preciso entender que por mais que estejamos rodeados de pessoas, isso não afasta em hipótese alguma a resolução de que somos seres solitários desde o nascimento até à morte. Não se deve colocar no outro a solução de todos os nossos problemas. Deve-se antes de tudo estabelecer uma relação sólida com a nossa essência, sem medo. Definir o nosso lugar no mundo e como desejamos viver neste espaço estabelecido.
No mais, a existência é recheada por percalços dos mais variados tipos. Só o que podemos fazer é aceitar que estamos vivos e se relacionar com tudo o que se apresenta diante de nós. Nosso destino vai sendo traçado pelas perdas ao longo do caminho, a morte de outras pessoas, o abandono de coisas que de repente deixamos de acreditar, a decepção de mundo e ao fim morrer, sem ter a certeza definitiva de para qual lugar essa morte nos leva.
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