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SINOPSE DO LIVRO

Ana Petterson é uma jovem de apenas vinte anos lutando para sobreviver em meio ao caos instalado depois que assassinou seu próprio pai o qual abusava sexualmente dela. Sua luta maior será esquecer o passado para absorver as exigências do presente. Sua vida muda completamente quando seu caminho cruza-se com o da prostituta Ilma Esquiavo.

Marta França, uma mulher de quarenta e poucos anos enfrenta uma dura depressão depois de ter abandonado as crenças religiosas para se casar com João Francisco. Ela se vê dividida entre a família, a religião e a difícil tarefa de perdoar seu marido depois que ele a trai.

Faustino Denegri, um escritor famoso, comete um crime aos doze anos. Por vingança ele mata o irmão recém-nascido afogado numa banheira. Aos sessenta anos ele tem visões e ouve vozes do fantasma do bebê. Atormentado por essas alucinações ainda terá de enfrentar um câncer no cérebro e a tristeza de ir morrendo a cada dia.

No meio de tudo isso está Catharina França, uma mulher que sonha em ser atriz e verá sua vida ser atingida por Ana Petterson, Marta França e Faustino Denegri. Uma trama contundente marcada por encontros e desencontros, onde todos os personagens têm suas vidas entrelaçadas de alguma forma. Uma história de assassinatos e segredos, genialidade e loucura.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

HOMOSSEXUALIDADE: O QUE PENSO A RESPEITO.

A homossexualidade não é uma doença psíquica como há muito tempo se pensou a respeito. Antes classificada como um transtorno de personalidade, a homossexualidade foi retirada do Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais (DSM-IV), não sendo, portanto, considerada algo a ser curado.

Eu não poderia apontar uma causa única para a homossexualidade. É um erro acreditar que seja genético ou ligado a uma função fisiológica. Já houve vários tipos de investigações, mas até hoje não se chegou a uma conclusão convincente, somente especulações. No entanto, posso dizer que existam várias causas de ordem psíquica, social e familiar que, atuando em conjunto e em várias etapas da vida pregressa de uma pessoa desencadeariam uma formação homossexual.

Também não penso na homossexualidade como uma opção consciente. Ninguém escolheria seguir pelo caminho mais difícil. As pessoas não se tornam homossexuais da noite para o dia. Decidem apenas mais cedo ou mais tarde assumirem sua realidade.

A sociedade e as igrejas ainda não se encontram preparadas para lidar com a questão, apesar de todos os avanços em direção a luta contra o preconceito. Acho lamentável que, num país laico como o Brasil, o cristianismo exerça grande influência nas decisões de ordem política a respeito dos direitos homossexuais e da lei que torna crime atos de homofobia. O Brasil é o país onde se registra o maior número de assassinatos de homossexuais e travestis e é preciso fazer algo.

Como disse logo no início, não existe cura para a homossexualidade. Mesmo assim as igrejas tendem a pregar o contrário. Acredito sim, numa mudança de conduta sexual: homens e mulheres homossexuais que, devido a uma crença religiosa, se submetem a um casamento heterossexual com o objetivo de se enquadrarem dentro das leis e diretrizes que regem uma determinada religião. Conheci muitos que assim o fizeram, mas me confessaram que o desejo por outras pessoas do mesmo sexo ainda persisti.

No primeiro texto, eu disse que o que determina o que somos está para além de traços biológicos e hormônios. Somos o resultado de uma construção que só pode ser avaliada levando-se em consideração toda a história de vida de uma pessoa.

DEPOIMENTO 2

E. O. M. (homem, 35 anos) – Se tivesse o direito de escolha, jamais teria optado por ser homossexual. Além do preconceito, temos que aprender a ser diferente, a sentir diferente. Uma das coisas que sempre me machucou muito foi nunca poder dizer abertamente o que sinto. Até para as pessoas que sabem da minha situação eu fico meio constrangido de falar sobre meus sentimentos. Essa é a primeira lição que aprendi: esconder o que sinto. Já sofri incontáveis vezes ao me ver apaixonado por um amigo. Está aí uma das coisas que não desejo a ninguém e confesso que é a pior dor do mundo. Para um homossexual, se apaixonar por um heterossexual é a pior das catástrofes. Principalmente quando o que está em jogo é a amizade. A maioria dos homens por quem me apaixonei jamais veio a saber e sofri calado, em silêncio e no anonimato. Participei dos principais momentos de suas vidas: fui a festas de aniversário, conheci a família e até as namoradas. Teve um em especial que eu fui até seu padrinho de casamento. Assim os vi partindo sempre. (Pausa para se recuperar... Lágrimas).

Há um gasto de energia muito grande por parte dos homossexuais. Com os heterossexuais isso não acontece, porque eles sempre agem naturalmente. Com a gente, é muito diferente. No trabalho, na família, ao ser apresentado para outras pessoas, estamos sempre preocupados no que vão pensar de nós, se estamos deixando muito a mostra nossa homossexualidade. Lembro-me que na escola eu era todo tenso. Tinha a impressão de estar sempre sendo vigiado. Era uma vítima frequente dos outros garotos. Me chamavam de ‘bicha, mariquinha, veado”. As vezes quando fecho os olhos e m lembro da minha infância ainda sou capaz de ouvir essas zombarias. Ainda hoje, apesar de ter aceitado com menos dificuldade essa minha condição, me vejo sempre procurando disfarçar e controlar minha voz, meu andar e meus gestos. Sinto como se nunca tivesse a vontade, como se nunca pudesse ser eu mesmo. Ainda tenho medo da reação das pessoas.

Hoje, tenho um bom trabalho, moro sozinho e já me relacionei esporadicamente com outros homens. Meu sonho: encontrar alguém com quem possa dividir meus planos e objetivos, formar uma família. Alguém que possa fazer ir pra bem longe o fantasma da solidão.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

A SEXUALIDADE HUMANA

Quero aproveitar o espaço do meu blog para destrinchar de maneira compacta temas abaixo. Os textos serão postados na seguinte ordem:



- PSICOSSEXUALIDADE



- HOMOSSEXUALIDADE: O QUE PENSO A RESPEITO.



- DISTÚRBIOS DO COMPORTAMENTO SEXUAL (PARAFILIAS)



- RELIGIOSIDADE/ESPIRITUALIDADE



- LOUCURA À LUZ DA PSICOLOGIA



Abaixo de cada texto será postado também um trecho das várias entrevistas que fiz com homossexuais e utilizei para a construção do protagonista do meu livro. Foi ocultado o nome e quaisquer informações que pudessem ser utilizadas para identificação do entrevistado.

PSICOSSEXUALIDADE

Falar sobre sexualidade não é nada simples devido a sua peculiar complexidade. O Compêndio de Psiquiatria nos alerta de que sexualidade e personalidade estão tão entrelaçados que seria praticamente impossível falar sobre a sexualidade como uma entidade separada. Por isso, em razão do desenvolvimento e do funcionamento da personalidade serem afetados pela sexualidade é usado o termo PSICOSSEXUALIDADE.

Em primeiro lugar é preciso abrir um parêntese: a ciência entende o ser humano adulto como sendo o produto final de uma equação cujo resultado é denominado FENÓTIPO. O fenótipo é a soma de duas partes: GENÓTIPO + AMBIENTE. Em resumo o genótipo constitui-se em toda a carga genética com a qual nascemos – a biologia e fisiologia do corpo humano. O ambiente corresponde ao meio familiar e social no qual vivemos; a maneira como aprendemos a interagir com o mundo e no que isso nos influencia.

Agora podemos prosseguir. A sexualidade depende de quatro fatores psicossexuais interrelacionados que afetam diretamente o crescimento, o desenvolvimento e o funcionamento da personalidade: IDENTIDADE SEXUAL, IDENTIDADE DE GÊNERO, ORIENTAÇÃO SEXUAL E COMPORTAMENTO SEXUAL.

1) IDENTIDADE SEXUAL – A identidade sexual está relacionada ao padrão de características sexuais biológicas:

a) Morfologia genital exterior – pênis e vagina;

b) Padrão da cromatina sexual – XX (mulher) e XY (homem);

c) Presença das gônadas – ovários e testículos. São também chamados de órgãos sexuais internos.

d) Níveis plasmáticos de hormônios sexuais – hoje sabe-se que tanto homens quanto mulheres produzem testosterona, estrogênio e progesterona. A diferença é que nos homens o nível de testosterona é muito maior enquanto que na mulher o estrogênio e a progesterona são maiores. Esses hormônios são importantes porque determinam as características sexuais secundárias como, por exemplo, a barba nos homens e a aumento dos seios nas mulheres.

e) estruturas acessórias do aparelho reprodutor. Na mulher: tubas uterinas e útero. No homem: canais deferentes e próstata.

Resumindo, estamos falando a respeito de um sexo biológico, endócrino e somático.

2) IDENTIDADE DE GÊNERO – A identidade de gênero está relacionado ao social. Normalmente, os homens tendem a ser masculinos e as mulheres, femininas. Mas bem sabemos que nem sempre é assim. A estrutura biológica descrita acima não é suficiente para determinar o gênero (masculino e feminino). Ao falarmos de gênero usamos a expressão sexo social.

3) ORIENTAÇÃO SEXUAL – Diz respeito ao objeto do impulso sexual de uma pessoa: heterossexual (sexo oposto); homossexual (mesmo sexo) e bissexual (ambos os sexos).

4) COMPORTAMENTO SEXUAL – Está relacionado a uma resposta fisiológica, onde a excitação ocorre devido a um fator físico ou psíquico.

Ao falarmos de orientação e comportamento sexual, estamos nos referindo a um sexo psíquico.

DEPOIMENTO 1

S. P. F. (homem, 28 anos) – Muitas pessoas me perguntam quando eu virei “gay”. E eu sempre respondo que nunca “virei”, pois na verdade desde criança eu já me sentia diferente dos outros garotos. Aos seis anos de idade eu tinha uma certa noção de minha diferença. Já apreciava com um interesse os outros meninos e preferia a brincadeira ao lado das meninas.

Não posso dizer com clareza o que causou essa mudança. Meu pai era um viciado em cachaça. Participou muito pouco da minha infância. Minha mãe, como quase todas as mulheres da minha família, se mostrava mais forte, dominadora e líder de todos nós. Eu me lembro que eu dizia que quando crescesse eu queria ser igual a ela.

Aos oito anos tive minha primeira relação sexual. Fiz sexo oral com meu primo que na época tinha 15 anos. Me confundo as vezes no que diz respeito a esse episódio, pois não sei se posso dizer que foi um abuso ou não. Meu primo nunca me machucou e eu gostava do contato com o corpo dele. O engraçado é o pacto de silêncio que tínhamos. Ninguém contava a ninguém. Nos nossos encontros às escondidas, o que aconteceu várias vezes, tínhamos contato físico além do sexo oral.

Hoje ele é casado com uma mulher, tem uma filha e poucas vezes nos vemos. E quando isso acontece não tocamos mais no assunto. É como se fingíssemos que não aconteceu. Sou um homossexual assumido, solteiro no momento e ainda não totalmente resolvido. È impossível aceitar essa condição sem sofrimento. Às vezes ainda me pego chorando por medo da solidão e da rejeição. Minha família nunca me ouviu dizer que sou homossexual, apesar de não ter dúvidas que todos eles sabem, principalmente minha mãe.

terça-feira, 14 de junho de 2011

UM SER SOLITÁRIO...

Desde muito cedo percebi que era um ser diferente. Eu almejava outras coisas, desejava o conhecimento. Mesmo assim me esforçava para fazer parte de algum grupo, para ser comum... Com o tempo, eu achava que as coisas mudariam. Na adolescência pouca coisa se alterou. Eu me tornei ainda mais diferente. Aos 13 anos escrevi meu primeiro romance num caderno pequeno. Eu me isolava para poder escrever e ver televisão. Não nego que participava de brincadeiras na rua, ia às festas de aniversário dos meus vizinhos. Mas confesso que me sentia um ser estranho em meio a tanta normalidade à volta. Uma normalidade que com a chegada da vida adulta acabou por se tornar enfadonha e tediosa.

Hoje, com 32 anos, eu aprendi que sou de fato um ser diferente. Desisti de acreditar no ser humano, na felicidade e num mundo injusto e que caminha rumo ao fim. Alguns me chamam de pessimista e de fato talvez eu seja. A verdade é que eu vejo o mundo através de uma outra ótica. Como posso me deixar envolver por um mundo de tragédias, doenças e miséria. Não tenho sonhos materiais, não sou um consumidor ferrenho como a maioria dos brasileiros, detesto aglomerações, convenções sociais, sorrisos forçados, falsos elogios e pessoas sem nada a acrescentar à minha existência. Tenho sim, confesso, planos para a contemplação e a elevação do espírito, tornar-me um ser imortal através das obras que escrevo, sentir-me útil na medida em que produzo algo. E essas aspirações são de fato a fonte de todos os meus sofrimentos e angústias hoje. Tenho de suportar um trabalho difícil que não contribui em nada para o crescimento do meu espírito. Sinto que poderia muito mais se pudesse me dedicar plenamente aos verdadeiros anseios de minha alma, dotada de um desejo infindável pela transcendência através do conhecimento, da arte e da religião. O que faço no meu trabalho qualquer um seria capaz de fazer, mas o dom que me foi dado é para poucos. Começo a sentir que uma vida assim talvez nem valha a pena continuar sendo vivida.

Espero confiante que Deus ao menos possa me perdoar e entender meus pensamentos que, para alguns, podem ser interpretados como ingratidão e amargura. Asseguro a todos que não se trata nem de uma coisa nem outra. Aguardo esperançoso o dia em que receberei de Seus braços um abraço reconfortante e uma compreensão que hoje, talvez por minha fé limitada e resultado do acúmulo de decepções, eu não consigo entender.

Ultimamente tenho lido as obras de Arthur Schopenhauer e tenho me identificado muito com seus pensamentos.

Faço deles as minhas palavras:
“Num mundo tão irrestritamente comum, todo aquele que for extraordinário irá necessariamente se isolar, e de fato se isola”.

“Acostumei-me a suportar demasiado os homens porque cedo compreendi que teria de fazê-lo, caso de algum modo quisesse lidar com eles. Todavia esta máxima nasceu de um jovem carente de relações. Experiência e maturidade tornam tais relações dispensáveis...”

“O que um homem de minha espécie pensa e sente não tem semelhança alguma com o que as pessoas ordinárias pensam e sentem”.

“Tão logo comecei a pensar, entrei em discórdia com o mundo. O mundo tornou-se para mim vazio e ermo! Nada encontro no mundo senão homens miseráveis, sofríveis, de cabeça limitada, coração ruim, sentimentos vis...”

Ao escrever essas linhas que mais se assemelham a um desabafo nem sei ao certo para quem escrevo. Talvez seja para mim mesmo tendo a débil esperança de fazer assim aquietar meu pobre espírito.

domingo, 12 de junho de 2011

O CINEMA IRANIANO

Quem me conhece de verdade sabe que eu cultivo uma estranha predileção pelo cinema iraniano. É bem verdade que meus gostos cinematográficos contemplam outros países que você sequer imaginou que podiam existir bom filmes como a Polônia, a Dinamarca, o México e outros. Mas prometo que em próximas postagens falarei um pouco mais sobre essa diversidade da sétima arte.

Mas a essa altura você já deve estar se perguntando o que pode vir de bom de um país que é cenário de guerras, tragédias naturais, regimes políticos autoritários de um senhor chamado Mahmud Armadnejad, além de misteriosas pretensões em torno da produção nuclear. Mas eu peço que esqueça tudo isso. Primeiro eu devo contar como me deixei contaminar pelos filmes do Irã.

O ano era de 1999 e eu, ainda pessimamente influenciado por Hollywood, estava de frente à televisão assistindo religiosamente a cerimônia do Oscar. Era um ano especial para o Brasil, pois Central do Brasil (Walter Sales) estava concorrendo ao prêmio de melhor filme estrangeiro e Fernanda Montenegro ao de melhor atriz. Ao serem anunciados os concorrentes de melhor filme eis que surge um título que, confesso, me deixou extremamente curioso. Seu nome: Filhos do Paraíso; seu diretor: Majidi Majid; sua origem: Irã. Vale destacar que nesse ano ainda tínhamos o belíssimo A Vida é Bela e posso afirmar sem hesitar que Filhos do Paraíso é melhor que todos os concorrentes, inclusive Central do Brasil.

Em Friburgo eu gozava da sorte de ter uma locadora (Video Mix) que dispunha de uma variedade de grandes clássicos e filmes de quase todos os países. Consegui alugar Filhos do Paraíso e então me vi diante de um cinema diferente e humano. Foi impossível não se emocionar durante a exibição. Daí em diante não parei mais e saí à caça de todos os filmes iranianos disponíveis no Brasil. Alguns eu consegui em Friburgo e outros eu aluguei numa locadora no campus da faculdade onde eu fazia o curso de cinema.

O cinema iraniano é ao mesmo tempo simples e complexo ao tratar das relações humanas, usando para isso situações do cotidiano, poucos recursos, locações e atores não-profissionais. Nos últimos anos o Irã tem marcado presença em praticamente todos os festivais pelo mundo afora. A consagração mesmo veio em 1997 quando seu mais célebre diretor, Abbas Kiarostami, viu seu filme Gosto de Cereja levar a Palma de Ouro em Cannes. Vale lembrar que esse mesmo diretor esteve presente no ano passado nesse mesmo festival com um filme de produção francesa chamado Cópia Fiel. A atriz Juliette Binoche, protagonista, levou o prêmio de melhor atriz. Além de Kiarostami os mais conhecidos são: Jafar Panahi, Mohsen Makhmalbaf e Majidi Majid.

Segue abaixo uma lista dos filmes iranianos disponíveis no Brasil. É difícil de encontrar, eu não nego, mas a busca vale a pena. Portanto não é naquela locadora da esquina do seu bairro que você vai poder perguntar sobre um filme iraniano.

Dê um descanso a Hollywood e prepare-se para entrar em um mundo de lágrimas, emoção e cinema de verdade. Ah, uma dica importante: se puder siga a ordem da lista.

1) FILHOS DO PARAÍSO (Majidi Majid, 1997). Indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro.

2) O BALÃO BRANCO (Jafar Panahi, 1995). Prêmio do júri na 19 Mostra Internacional de São Paulo.

3) ONDE FICA A CASA DO MEU AMIGO? (Abbas Kiarostami, 1987). Leopardo de Ouro no Festival de Locarno.

4) VIDA E NADA MAIS (E A VIDA CONTINUA) (Abbas Kiarostami, 1992)

5) ATRAVÉS DAS OLIVEIRAS (Abbas Kiarostami, 1984).

6) CLOSE-UP (Abbas Kiarostami, 1990). O curioso é que esse filme só chegou aos cinemas brasileiros em 2001.

7) GABBEH (Mohsen Makhmalbaf, 1996).

8) GOSTO DE CEREJA (Abbas Kiarostami, 1997). Palma de Ouro no Festival de Cannes.

9) UM INSTANTE DE INOCÊNCIA (Mohsen Makhmalbaf, 1996).

10) O JARRO (Ebrahim Forouzesh, 1992). Leopardo de Ouro no Festival de Locarno e Prêmio do júri na 18 Mostra Internacional de São Paulo.

11) O SILÊNCIO (Mohsen Makhmalbaf, 1998).

DICAS PARA QUEM PRETENDE SER UM ESCRITOR

1 – A HORA DE ESCREVER É AGORA
Nunca diga: “Estou esperando o momento certo para começar a escrever”. Se você tem vontade de ser um escritor é melhor abandonar essa maneira de pensar, pois talvez o “momento certo” pode nunca chegar. A vida é cheia de percalços e deve-se acostumar a escrever em meio aos problemas cotidianos.

2 – NÃO TENHA A PRETENSÃO DE SE TORNAR MILIONÁRIO COM SEUS LIVROS.
Bem sabemos que vender livros no nosso país é uma tarefa árdua e muitas vezes injusta. O verdadeiro escritor é aquele que escreve não pensando em ganhar dinheiro, mas sim porque tem a necessidade de escrever. Todo artista busca um reconhecimento do seu trabalho, mas não pense nisso agora. Concentre-se apenas em fazer o melhor que pode enquanto escreve.

3 – A HISTÓRIA É SÓ SUA
Nunca deixe ninguém ler suas histórias antes de terminá-las. Sei que às vezes, enquanto escrevemos, ficamos ansiosos para mostrar a alguém. Mas isso pode ser prejudicial, pois cada um tem uma opinião diferente e isso pode influenciá-lo ou até mesmo desanimá-lo.

4 – SEJA ORIGINAL: SURPREENDA O LEITOR
Lembre-se: não existe história ruim; o que existe é uma história mal contada. Faça com que aquele que for ler seu trabalho tenha vontade de virar a próxima página; monte sua história de forma a surpreender.

5 – LEIA MUITO. MUITO MESMO!!!
Acredito que uma ferramenta fundamental para o escritor é a leitura. Leia todo os tipos de livros desde os clássicos aos contemporâneos. Estar diante de diversas formas de literatura e narrativas pode servir de incentivo e inspiração.

6 – ESCREVA SEMPRE!
A escrita é algo que tende a se aperfeiçoar; mas esse feito só acontece se você ler muito (como citei acima) e ao mesmo tempo exercitar sua própria escrita. Tente ser menos crítico enquanto escreve. Lembre-se: durante o processo de fazer os personagens saírem de sua cabeça para ganharem vida nas folhas em branco eles só existem para você e, portanto tem de ser o primeiro a acreditar neles. Para escrever uma história você tem que, antes de tudo, acreditar que ela é uma boa história e merece ser contada.

6 – NUNCA OBRIGUE AS PESSOAS A LEREM SEUS TEXTOS
Não seja chato nem intransigente. Deixe apenas as pessoas saberem que você escreveu algo, mas não insista. É muito melhor quando alguém lê um trabalho nosso por vontade própria. Dessa forma, você será sempre correspondido com uma crítica sincera.

7 – SEJA DISCIPLINADO
Muitas vezes você vai se perceber inventando desculpas para começar de fato a escrever. Isso é normal, eu te garanto. E aí vai uma dica importante: se programe de maneira a reservar um determinado tempo para sentar em frente ao computador. E cumpra rigorosamente. Não importa se vai escrever três, duas ou uma lauda. O importante é sentir que está produzindo e seu livro finalmente está ganhando vida.

8 – APRENDA A SER SOLITÁRIO
Tenha em mente que se quiser ser um escritor vai ter de aprender a ficar sozinho de vez em quando para realizar o que deseja. Como é praticamente impossível viver somente dos livros que escreve, você terá de ter um outro trabalho para se sustentar. Portanto, vai ter de sacrificar alguns finais de semana para por a leitura em dia e escrever.

domingo, 5 de junho de 2011

O ABSURDO DA EXISTÊNCIA

Começo este texto refletindo sobre a ideia de que não há nada mais absurdo do que o fato de existir. Aliado às incógnitas e mistérios, o homem tem que se adequar para poder se sustentar e encontrar meios de se colocar frente a essa realidade.

Dessa forma o ser humano está condenado a três verdades inescapáveis: criar fantasias a respeito de um futuro incerto; correr atrás da felicidade, esquecendo de que ela é apenas um pote de ouro no final do arco-íris; e carregar o passado que o acompanha feito sombra até à morte. Juntam-se a esta condenação três sentimentos inerentes à natureza humana: a temida solidão; a incompreendida angústia e a incontestável liberdade. É sobre esses três sentimentos que quero focar minha discussão.

A ANGÚSTIA sai do campo da patologia, um lugar onde sempre pareceu estar, para entrar no cenário humano como parte constituinte do sujeito. Devido à nova dimensão nos pontos referentes a sua compreensão, ela passou a ser vista como inerente à condição humana e não uma forma de patologia. É como defini-la como a sensação de incompletude. Somos seres angustiados por natureza, pois somos jogados à vida sem precedentes que nos conduzam ao bom caminho, vivemos apenas rodeados por mistérios sem respostas: de onde viemos, para onde vamos, quem somos? Pensar a fundo no absurdo da existência é ser tomado por forte descarga de angústia. Por isso, creio eu, nossa mente tenta fugir desses devaneios, tentando compensar nosso espírito com outras coisas, dando maior importância ao ter do que ao ser.

Grande parte da angústia advém da LIBERDADE do ser humano. O homem é um ser totalmente livre, responsável por todos os seus atos, escolhas e resoluções. Isso é angustiante por que pensar assim nesse caso é dizer que não há como colocar a culpa em ninguém, nem em Deus e muito menos em outras pessoas. Nós, seres humanos somos os únicos responsáveis por todos os caminhos traçados e por tudo o que compõe a nossa existência. O homem é um ser que, livre, decide a própria vida. O homem arca com a responsabilidade de sua escolha. Para Sartre, “a liberdade não é uma qualidade que se acrescente às qualidades que já possuía como homem: a liberdade é o que precisamente me estrutura como homem, porque é uma designação específica da própria qualidade de ser consciente, de poder negar, de transcender. A liberdade é o que define a minha possibilidade de me recusar como coisa, projetando-me para além disso, ou, se quiser, para além de mim”.

E por fim, a consequência de tudo isso: a SOLIDÃO de cada um, resultado do pouco entendimento sobre quem somos e da dificuldade de se relacionar consigo mesmo. Talvez a solidão seja a responsável por despertar o desejo por uma busca desenfreada e desesperada de ser amado pelo outro, como se resumisse todo o objetivo de uma vida inteira. Mas relações humanas também são solitárias, pois não há como ter acesso ao campo subjetivo do outro e ter assim a certeza do seu amor por nós. Do nosso amor é possível ter certeza, mas o amor do outro é algo inatingível. É preciso entender que por mais que estejamos rodeados de pessoas, isso não afasta em hipótese alguma a resolução de que somos seres solitários desde o nascimento até à morte. Não se deve colocar no outro a solução de todos os nossos problemas. Deve-se antes de tudo estabelecer uma relação sólida com a nossa essência, sem medo. Definir o nosso lugar no mundo e como desejamos viver neste espaço estabelecido.

No mais, a existência é recheada por percalços dos mais variados tipos. Só o que podemos fazer é aceitar que estamos vivos e se relacionar com tudo o que se apresenta diante de nós. Nosso destino vai sendo traçado pelas perdas ao longo do caminho, a morte de outras pessoas, o abandono de coisas que de repente deixamos de acreditar, a decepção de mundo e ao fim morrer, sem ter a certeza definitiva de para qual lugar essa morte nos leva.

AS FASES DE UM DOENTE TERMINAL: NEGAÇÃO, RAIVA, BARGANHA, DEPRESSÃO e ACEITAÇÃO.

Em seu trabalho com pacientes terminais, a psiquiatra Elisabeth Kübler-Ross fez algumas observações sobre o assunto. Publicou o livro “Sobre a Morte e o Morrer”, no qual a partir de uma pesquisa minuciosa junto a pacientes terminais, pontuou os cinco estágios pelas quais percorre um indivíduo ao receber um diagnóstico fatídico. Na época, seus alunos recorreram a ela para solicitar ajuda num trabalho que objetivava pesquisar “as crises da vida humana”. Depois de longas discussões ficou acordado que a maior das crises era a morte. Mas era inviável realizar um projeto de pesquisa onde a morte era o assunto principal, pois não existem relatos de quem já morreu e tudo o que se sabe sobre o que existe após o morrer encontra-se no campo do mistério e das religiões. Kübler-Ross então teve a brilhante ideia de realizar entrevistas junto a pacientes terminais. As entrevistas resultaram num trabalho inédito na área e que serve de referência até hoje. Nele, ela relatou fases pelas quais todo paciente passa desde o momento em que recebe um diagnóstico até à morte. Essas fases são as seguintes: negação (“Isso não pode estar acontecendo comigo”!), onde o paciente vai em busca de outras opiniões médicas e demora um tempo a ter consciência da doença; raiva (“Por que eu? Porque isso está acontecendo comigo?”) – nesta fase o paciente apresenta revolta contra o mundo ou contra Deus pela circunstância em que se apresenta, classificando como injusto estar doente; barganha (“Talvez se for bom ou se fizer as coisas certas, Deus pode me libertar”) – o paciente acredita poder ser recompensado se tiver um bom comportamento; depressão, quando o paciente não pode mais esconder ou negar a doença, tendo de se submeter aos diversos tratamentos e cirurgias, sentindo-se cansado e com pouca força para continuar lutando e por último temos a fase de aceitação, quase “uma fuga de sentimentos”, como se toda a luta tivesse cessado e chegasse a hora de aceitar de forma definitiva e próprio fim.

Foi verificado que uma característica comum em todas as fases é a esperança por parte do paciente, uma esperança que muitas vezes se apresenta em maior ou menor grau. Como explica Kübler-Ross, em muitos casos, ela está calcada numa “formação religiosa sólida”. Segundo Kübler-Ross, “esta esperança pode vir sob a forma de uma descoberta nova, um novo achado em pesquisa de laboratório, ou sob a forma de uma nova droga ou soro; pode vir como um milagre de Deus”. A autora nos revela que a morte, na verdade, não é o grande problema para o paciente terminal, mas o medo de morrer nasce da desesperança e do desamparo que acompanha a doença. A religião tem oferecido esperança e sentido. Quando um paciente não dá mais sinal de esperança, geralmente, é prenúncio de morte iminente, pois não está na natureza humana aceitar a morte sem abrir uma porta para uma esperança qualquer.