Assim como grande parte do Brasil e do mundo, eu não poderia ficar imune a duas grandes tragédias que aconteceram em apenas uma semana. A primeira com o avião da Air France que caiu nas águas do Atlântico, matando mais de 200 pessoas. A segunda, apenas cinco dias depois, onde um incêndio numa creche no México matou 38 crianças.
O que dizer de acontecimentos tão trágicos? Qual o grande mistério envolvido em duas catástrofes de proporções inimagináveis na vida de famílias desoladas e sem algo concreto que possa servir de consolo? Talvez essas sejam as grandes perguntas que pairam sobre nossas cabeças e que, creio eu, não exista resposta.
Alguns dias atrás estive no funeral da mãe de um amigo e horas depois fui tomado por um sentimento de menos valia e decepção. Tudo isso por que, ao ter lançado recentemente um livro onde o assunto principal era a morte e o morrer, eu me achava na obrigação de ter dito ao meu amigo palavras claras, precisas e que talvez o ajudasse a enfrentar um processo tão doloroso. Só depois de muita reflexão, percebi que existem momentos onde o discurso bem feito é perfeitamente dispensável e nossa presença como fator consolidador de solidariedade é capaz de dar conta e abarcar qualquer palavra que pudesse ser dita. Penso eu que a linguagem é fruto da articulação de vários processos atinentes à razão/cognição, como o pensamento, a memória e a própria fala. Como o assunto é a morte e o consequente abandono da vida, isso só é afeto ao campo das emoções e da subjetividade. Como sabiamente disse o filósofo Kant, “a Razão não pode dar conta de assuntos os quais ela não sofreu a experiência”. Quanto à morte, resta-nos o mistério, as perguntas, as dúvidas. O porque de crianças morrerem sem ter a plena consciência ou ao menos poderem definir o que é a vida? O porque de pessoas terem seus projetos desfeitos sem aviso prévio e serem sucumbidas pelo assombro da morte?
No caso de pacientes diagnosticados com uma doença terminal, sobra-lhes um importante e valioso benefício: o tempo necessário para organizar a partida sem deixar questões pendentes. Sei perfeitamente que isso não serve como consolo para o paciente nem tão pouco para familiares. Mas deixo essas questões para que todos possam pensar e tirar suas conclusões. Na tragédia com o avião, aquelas pessoas tiveram suas vidas interrompidas sem ter tempo algum para qualquer resolução que tornasse o morrer menos doloroso.
Faço deste blog uma ferramenta de solidariedade para com parentes e amigos das vítimas das duas tragédias.
terça-feira, 9 de junho de 2009
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é Mike, depois de ler o seu comentario, fui levado a uma reflexão sobre o assunto, acho que essas tragédias só devem nos fazer pensar sobre a benção de viver.
ResponderExcluirquaquer um pode ser alvo de algo tragico e sendo alvo nos privariamos de muitos sonho que adiamos!
forte abraço, amigo.
SULLIVAN, realmente são duas tragédias que nos levam a pensar: "Por que ainda hoje, em 2009, acontecem acidentes assim? Será que as coisas estão melhorando, à medida que o tempo passa? Seria o cumprimento da profecia bíblica acerca dos últimos dias, diante de situações tão chocantes?
ResponderExcluirEnfim, existem momentos na vida do ser humano que, dada a enorme dificuldade para se recuperar de alguma perda, só nos resta o Consolador! Quando ocorrem coisas que para muitos é inexplicável, só nos resta o Consolador! Palavras..., sinceramente, tem horas que só nos resta o Consolador!
Um abraço, PORTO
CARO AMIGO SULLIVAN, diante desse comentário altamente sugestivo de uma reflexão sobre as tragédias ocorridas, percebo que as nossas vidas, sem sombra de dúvidas, estão constantemente rodeadas pela MORTE, direta ou indiretamente.
ResponderExcluirUm forte abraço, DO MONTE.
Nada é em vão, sei que as tragédias ainda hoje nos chocam e nos deixam sem respostas. Mas a verdade é que grandes tragédias acontecem desde os primórdios da humanidade, a diferença é que hoje com a velocidade que se processam as informações elas nos chegam muito rápido. Mesmo assim ficamos com um nó no coração, um aperto na alma, essa que um dia também há de sair do nosso corpo. A verdade é que as várias maneiras do morres nos atropelam nesse mundo com tanta tecnologia, e até essa nos mata. A única certeza que me resta é que temos que viver intensamente, cada dia ainda que seja o último.
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